Talvez a história não seja essa. Talvez eu me perca nas palavras. Talvez eu me perca em seus olhos.
Eu me lembro apenas que estava frio, e caia uma chuva gelada, água gelada que chegava a doer minha alma. Meu guarda chuva era preto e pequeno, eu levava muitas bolsas, estava me molhando todo. Mas eu caminhava com pressa, pressa de chegar até meu destino.Meus pés estavam com um tênis azul, já encharcado. Lembro que me perdi em frente a um hospital rosa, na mesma quadra tinha uma caixa d’água... Ela era gigante, cor de vinho, traços de ferro europeu (me lembra você). Mas eu não podia perder tempo, os minutos estavam correndo ao meu lado, eu precisava correr mais que eles, desviei meus pensamentos e segui caminhando. Minhas bolsas caiam, e a chuva caia, estava todo desajeitado (você ia achar graça se me visse com certeza você riria de mim). Comecei a caminhar na calçada, mas a minha vontade era de largar aquelas bolsas e correr pelo meio da rua, sem guarda chuva preto, sem tênis azul, e fugir de perto do hospital rosa.
Na calçada, tinha um pai com seu filho embaixo de um guarda chuva, senhoras andando devagar, pessoas se molhando, na rua carros buzinavam. Tanta correria, por que vocês nunca param? Por que nunca tem tempo? Eu não podia pensar muito, os minutos já dobravam a esquina, e eu ainda estava no começo da rua.
CORRI, CORRI, CORRI, ME MOLHEI, CORRI, CORRI...
Cheguei a meu destino, uma grande biblioteca rosa como o hospital. Abriram suas enormes portas marrons para mim, eu entrei e gritei. VOCÊ NÃO ESTAVA MAIS LÁ. Não podia desistir, ainda havia tempo... Por favor, Tempo colabore com o meu coração. Larguei minhas bolsas, e com o meu guarda chuva preto, corri, desviei de pessoas, desviei de pensamentos. Parei e olhei um grupo de pessoas, todos rostos estranhos, sem expressão, eram apenas a população, mas aonde estaria você. Meu coração parou, eu tinha te achado, comecei a caminhar em direção a você, a chuva fazia barulho no guarda chuva preto... Meu coração começou a ritmar com os meus passos. Um passo, tum, dois passos, tum tum, três passos, tum tum tum.
PAREI.
Estava parado. Você do outro lado. Ainda não tinha me visto. Pessoas passavam com seus guardas chuvas enormes. E o guarda chuva preto, escondia o meu rosto. Tirei-o da frente e você me viu. Seus olhos brilharam. Eu sorri. Você estava pensando em mim? Você queria eu do seu lado? Estou atrasado, mas estou aqui.Nos abraçamos, ainda estava frio, ainda chovia. Como seus braços são quentes! Fomos para chuva, abri o guarda chuva preto, embaixo dele estava eu e você.
Não se preocupe meu guarda chuva preto, é simples, se compra em qualquer banca ambulante. Mas ele é mágico, ele conhece os meus segredos (pelo menos o do dia) e está disposto a guardar mais um. Nos encostamos na parede de um antigo prédio, e nos beijamos, a chuva viu tudo, estava frio, senti meu coração pular mais rápido, senti sua língua, meu tênis azul viu tudo de baixo, e o guarda chuva preto escondeu nossos rostos, escondeu nossas mãos e nossos abraços. Ele nos levou a outro mundo. Apesar do céu estar cinza, apesar da natureza chorar água doce, eu estava ali mais uma vez. Com meu braço sobre o seu ombro, ouvindo sua voz, eu me senti quente, eu me senti bem.
O guarda chuva preto nos acompanhou pelos minutos que ficamos juntos, minhas mãos estavam congeladas, em compensação meu coração estava quente e batendo por você, somente por você.
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